Carta escrita para o meu livro da vida, deixada pelo Renato em ocasião de meu aniversário:
" (Em nome da tia, da madrinha, da mãe, Amém)
Tia Marthinha,
Dezoito anos se passaram desde quando eu tive a honra de conhecer aquela que se eu chamasse de madrinha hoje, expressaria muito, mas muito menos que o significado dessa pessoa pra mim. Foi a primeira pessoa entre todas a me ver, a que me levou na escola a primeira vez, além de fazer a escolha do colégio sem deixar de esquecer o zoológico pra que eu não sentisse tanta falta da vida que eu levava na época, de fazenda, mato...
Pelo que consigo me lembrar, você nunca foi ausente na minha vida, nunca deixou de se lembrar de mim. Lembro que um dia, não sei qual o evento, na Barrinha, ia ter um foguetório; como você sabia que eu ficaria assustado com o barulho de tantos foguetes estourando, me levou pra dentro de um gol (vinho, se não me engano) e fechou a porta; ainda assim me assustei, mas garanto que foi bem menos. Outra coisa que eu não me esqueço é de quando eu me mudei pra Brasília, aquela época difícil, de 20 de fevereiro até 1º de maio de 2002, onde mexer comigo era duro. Eu tava sentindo muita falta da vida que eu levava, mas, de novo, a heroína foi você, que perdia o horário da academia quase todo dia, sem falar do trabalho, pra me ajudar. Foi graças a você que eu, mesmo muito jovem, discutia Feudalismo e Sociologia com os professores impondo todo meu conhecimento.
Dou muito valor até hoje em cada auxílio que eu recebi de você; tão valioso é que eu nunca me esqueci de qualquer ensinamento, e por isso você tem múltiplas funções na minha vida. Uma vez a psicóloga do Galois me chamou pra conversar sobre a vida e perguntou como eram minhas saídas pra festas. Eu respondi que minha avó quase nunca deixava, que era muito difícil, que “só se a tia Marthinha falasse com minha avó ela deixava”... Nesse instante ela me deu uma idéia brilhante, mas que eu ainda não tinha pensado: porque você não procura a “tia Martinha” antes? Caso resolvido, era só procurar a tia Marthinha que antes de falar com a minha avó que quando eu pedisse tudo já estaria resolvido, com a condição de informar lugar, carona pra ir e carona pra voltar. Simples! Mas que não o seria se não existisse quem? A tal da tia Marthinha.
Por isso, tia Marthinha, não ache ruim eu não te chamar de tia dinda, ou madrinha. Afinal, quem mandou você fazer isso tudo por mim, acabei dando toda importância a palavra tia e esquecendo todas as outras. Madrinha é pouco! Você é a tia Marthinha, diferente de todas as tias que já existiram ou irão existir. E ainda bem que eu estou digitando, evita molhar o papel.
Que Deus consiga retribuir tudo que você já fez por mim, por que eu nunca vou conseguir. Você sempre vai estar presente em toda oração que eu fizer.
Parabéns pelo seu dia, parabéns pela sua trajetória, parabéns pela sua determinação em mostrar pra si do que você é capaz. Ainda vou ser igual a você!
(Em nome da tia, da madrinha, da mãe, Amém) "
Em resposta, o meu agradecimento deixado à ele:
" Em nome do sobrinho, do afilhado, do filho, Amém!
Amado, sua mensagem foi uma das que mais me emocionou. Confesso que tive que interromper a leitura para me recompor e terminá-la algum tempo depois.
Sim, fui a primeira pessoa a te ver, mas antes disso já acompanhava seu crescimento na barriga da sua mãe! Acho até que sentia as mesmas sensações que ela sentia, tamanha era nossa ligação. Na época da sua gravidez, sua mãe ficava muito na nossa casa e passava uma novela na Globo (das 18hs), cuja abertura era de uma mulher gestante e tocava uma música do José Augusto - "Aguenta coração". Enquanto aquelas imagens da gestante passavam, eu só imaginava vc crescendo! Ficava imaginando seu rostinho, seus bracinhos, perninhas, seus dedinhos!
Desde aquele momento já ficava ávida com sua chegada e já te amava!!! Por isso digo que minha ligação com vc é visceral, embrionária!
E assim fui acompanhando cada passo seu. Fazia questão - e adorava que seus pais me permitissem isso!
Te levar e te deixar na escola foi um parto! Nossa! Qto sofrimento! Que vontade de te pegar nos braços, enxugar suas lágrimas, te levar para casa e te dizer que estava tudo bem! Não, não podia fazer isso. Vc tinha que seguir seu caminho, mesmo que custasse um pouco de dor. Vc acabou acostumando com aquela história e até passou a gostar da escola. Lembro-me o dia de sua formatura no Jardim!!! Qta emoção!
E assim o tempo foi passando, não é? Tempos de Rosário, que foi outra luta para vc ir para a escola!!! (será que essa luta não vai acabar nunca????)
Qtas vezes eu estava chegando para a aula no Ceub, pela manhã, e minha mãe me ligava dizendo que vc não quis ir para a aula... Aquilo acabava comigo... voltava correndo para casa...
Alguns momentos ficava tão desesperada que cheguei a te machucar. Aquela ferida pode não ter deixado marcas na sua frágil mãozinha, mas fique certo que está cravada no meu coração. Não me perdoo por ter feito aquilo e me machuca mto toda vez que lembro... mas a vontade de te ver numa escola boa, a vontade de te ver crescer e desenvolver era tanta que me deixava cega. Errei bastante com vc, garoto! Entretanto, a intenção sempre foi te ver bem, realizado, homem feito e feliz. Para isso nunca medi esforços, apesar de não raramente me sentir incapaz e impotente.
Depois veio o Galois, as primeiras saídas à noite, a primeira namorada... Gostaria de reescrever algumas situações, fazer de novo, para fazer melhor. Mas o tempo não volta e só me resta pedir a Deus que te abençoe e te faça feliz e que me perdoe pelos meus desacertos.
Vc pode me chamar do que quiser, pq será sempre meu garotinho que amo tanto.
Ainda bem que estou digitando, pq senão o papel já estaria molhado!!!
Não seja igual a mim, seja melhor. Vc é capaz. Sempre soube da sua capacidade. Capacidade de conversar com todo mundo, de ter assunto e conversa boa, de interagir, de fazer as pessoas se sentirem bem, de rir, de cantar! Isso se chama "inteligência emocional" (já ouviu falar? hj se fala que tem sucesso aquele que tem inteligência emocional), sem falar da sua rara inteligência intelectual.
Por isso te digo mais uma vez:
Meu filho, valorize seus estudos - é isso que vai te dar autonomia e independência. Leve isso a sério.
Fico a imaginar vc, no seu belo escritório, de terno, com um monte de secretárias e mais um monte de clientes! Sonhe grande, pense grande que suas realizações serão grandes. Esforce-se para tal.
Conte comigo sempre. Para o que der e vier.
Amo você um tantão assim!
Em nome do sobrinho, do afilhado, do filho, Amém!
(adorei isso!) "