"O olhar reflete o trauma que a alma traz."
Quando
eu tinha uns seis ou sete anos de idade, numa tarde em casa, pedi minha mãe
dinheiro pra comprar bala, chiclete, pirulito... na venda da esquina. Era tão nova,
e lembro perfeitamente do dia. Ela colocou um monte de moedinhas numa bolsinha
preta, e pendurou na gola da minha camisetinha. A vendinha ficava ao lado da
minha casa, e o dono era pai da minha babá, então era conhecido, de confiança e
eu sempre ia lá durante o dia. Nesse dia, durante o caminho, um “doido” veio em
minha direção, (lembro direitinho do rosto dele de “mal”), puxou com toda força a
bolsinha e me chutou. Em seguida, correu... Ele era jovem também, de uns 15 ou 16 anos, e minha mãe conhecia
a mãe dele, e inclusive a ajudava dando coisa de comer e beber quando ela ia a minha
casa pedir. Enfim... Estou contando essa história para explicar um grande
trauma na minha vida. Hoje, não consigo ficar muito tempo em algum lugar
sozinha, vendo gente “estranha” passar, que já começo a ficar sufocada! Como
pego ônibus aqui em Brasília, fico muito tempo em paradas, e todos sabemos como
é grande o fluxo de homens bêbados, drogados, ou “doidos” que andam pelas
ruas... Isso me causa um total descontrole interno. Se eu vejo um homem se
aproximando começo a rezar, fico louca!!! Tenho um medo absurdo... E
isso, se dá ao que chamamos de trauma.
“Os traumas adquiridos na infância são os
mais difíceis de serem solucionados, por permanecerem no plano subconsciente ou
inconsciente. Na fase adulta, a pessoa adapta a sua conduta ou comportamento ao
trauma do passado.” (Dra Mariagrazia Marini Luwisch).
Todos nós
estamos propensos a passar por algum tipo de trauma, visto que, estes,
acontecem a qualquer momento de nossa vida. Eu, particularmente, me lembro de
vários acontecimentos na minha infância, que refletem perfeitamente no modo como levo a vida hoje em dia...
O
acontecido, que resultou neste blog, foi o pior trauma que tive na vida. Hoje
vivo todos os dias “a mil”. Afetou em várias partes do meu psicológico.
Hoje em
dia, não gosto mais de dormir com meu celular pra tocar ou vibrar, coloco no
silencioso, para não ser acordada durante a noite ou pela manhã. Não suporto
ouvir um celular tocando de manhã! (Foi assim que recebi a notícia no dia 30/10/2010). Aqui em casa, acionamos o alarme toda noite,
e de vez em quando meu irmão mais novo se esquece de desligá-lo quando acorda (é
o primeiro a acordar, por volta de 6h15 mais ou menos). Duas vezes já, ele se
esqueceu de desligar. Foi sair, e o alarme disparou. Eu acordei tão assustada,
comecei a me desesperar. Cobri o rosto com o cobertor, feito uma criança
com medo de "monstro", fiquei ali tremendo, nervosa, até o barulho parar... E não
consegui mais dormir... Aliás, não fiquei sossegada até ir à faculdade e
perguntar o meu irmão mais velho o que havia acontecido, e quem havia
desligado... Enfim... Ele explicou, e me acalmei. Outro dia, meu irmão mais
novo se atrasou, e o motorista da van que busca ele, ligou no telefone de casa
às 6h15!!! Quando eu escutei esse telefone tocar, me veio na cabeça: “alguém morreu”,
“alguém sofreu acidente”, “alguma coisa muito ruim aconteceu”...
Não tem lógica
o que é sentir medo de receber uma notícia ruim! Uma das piores sensações que
existem. Sem contar o que sinto também quando ligo pra alguém, mando mensagens,
e esse não responde (isso quando sei que a pessoa saiu de carro, ou está em
algum lugar perigoso, ou em qualquer situação que me deixe cismada), fico
louca! E já vêm mil pensamentos de notícias ruins na mente... E isso é doentio,
horrível de sentir...
Estou
contando esses casos, dentre outros tantos que aconteceram depois do fatídico
dia, e vem acontecendo vez ou outra... Isso são consequências de “traumas”.
Mais precisamente, do trauma que sofri no dia 30 de outubro de 2010.
“Os traumas psíquicos podem ter consequências nas
várias etapas da existência humana. Um trauma psicológico é algo que não deixa
marcas físicas expostas no corpo ou que podem ser vistas através de algum
exame, porém, suas consequências podem tomar dimensões significativas,
prejudicando não só a infância, como a adolescência e a vida adulta do sujeito.”
(Dra Joselaine de Fátima G. Garcia).
Precisamos
procurar conversar com profissionais que nos ajude a amenizar a ansiedade, o “descontrole”
emocional, e a aprender a equilibrar esses medos. Seja com orações, ou qualquer
maneira que você se sinta protegido e seguro...
Viver
com a dor da saudade já é terrível. Ainda ter de suportar a viver com MEDO da
vida, é angustiante...
Gostaria
que, quem puder, deixe nos comentários algum trauma sofrido durante a vida.
Além de ser uma forma de desabafar, é também um meio de dividirmos essas
dolorosas experiências... Também indico a quem sofre com esse transtorno, que
pesquise na internet sobre o assunto, ou procure um profissional que o ajude a esclarecer
melhor.
Obrigada
a todos...